4 de maio de 2008

GRAU DE INVESTIMENTO SEXUAL

Em meio à euforia governamental por o país ter alcançado a tão sonhada classificação de "grau de investimento", os jornais nacionais e estrangeiros abrem amplo espaço para a divulgação do mais recente escândalo nacional, que afasta o olhar da sociedade dos verdadeiros problemas do país.

Tema da semana, o programa do jogador de futebol Ronaldo Nazário com três travestis e seu desfecho em uma delegacia da Barra da Tijuca ganhou as manchetes do mundo inteiro e repercute uma vez mais a fama de paraíso sexual deste nosso país.




Em matéria publicada hoje no jornal The New York Times , o caso é detalhado e o texto estampa a afirmação de que a prostituição no Brasil é legalizada, bem como a de que, se fosse em outro país, onde a prostituição é ilegal, o desfecho do caso seria outro. (Na imagem, que estampa a matéria do NYT, o travesti Andrea, em São Paulo)

O problema é que a prostituição não é legalizada no Brasil! Os correspondentes do NYT deveriam tomar mais cuidado em relação ao que escrevem acerca da legalidade ou da ilegalidade das coisas por aqui.

Se é certo que a própria mídia nacional se esmera em divulgar no exterior as riquezas nacionais (futebol, bundas, sensualidade e samba), não menos certo é que esta imagem negativa de paraíso do sexo e da pedofilia e exportador de prostitutas e trabalhadores braçais não necessita de mais informações distorcidas.

Mas, o que iríamos querer, não é mesmo? O principal argumento de Ronaldo em sua defesa é a de que ele contratou três prostitutas e só descobriu que eram travestis no Motel, razão pela qual teria desistido do programa. E este argumento parace ser bastante aceitável para a opinião pública, que até agora somente tem feito comentários jocosos em relação ao fato de o jogador ter contratado três travestis, ou ao fato da possível extorsão praticada pelos três trabalhadores do sexo.

Ninguém se dispôs, até o momento, a promover o competente procedimento policial e judicial contra o jogador pelo agenciamento da prostituição. E com isso Ronaldo soma sua desculpa esfarrapada à lista dos que justificam seu crime em equívoco em relação à pessoa da vítima:

- Ah, eu contratei três prostitutas, e só depois vi que eram travestis...

- A gente espancou a doméstica, mas pensou que estava batendo em uma prostituta..

- Eu pus fogo no índio, mas pensava que estava queimando um mendigo...

- Eu usei cartão corporativo por engano, é que ele tem a mesma cor do meu cartão pessoal...


Ah, claro! agora sim, está explicado...

Impressionante!

Apenas para constar, o governo da Áustria, após a divulgação mundial do escândalo de um pai que manteve a filha em cárcere no porão de sua casa por 24 anos e com ela teve sete filhos, se apressou em divulgar nota oficial acerca do ocorrido e da postura do governo e do povo austríaco, de modo a impedir ou minimizar o dano causado à imagem do país e de seu povo no imaginário popular internacional.

Obviamente, o governo brasileiro não comentou nenhum dos escândalos sexuais, políticos, econômicos ou sociais que polulam a mídia internacional constantemente e afetam a imagem do país.

Pensando bem, talvez seja melhor que não o faça mesmo...do modo como as coisas andam, o governo não faria outra coisa na vida senão justificar a vergonha alheia...

O importante é que, ao menos o setor de turismo sexual tem o que comemorar, a matéria do NYT ajuda a divulgar a sua causa.

3 comentários:

Unknown disse...

Professor, não é que você acertou!? tá o Ronaldo na capa da Veja! rs. Essa eles não iriam deixar escapar por nada!
Abraço,
Bruno Marchetto.

Anônimo disse...

Oi professor e Bruno, depois da sua aula resolvi dar uma olhada no seu blog. Realmente é o Ronaldo na capa da Veja Bruno,(revista que já li o que interessava, e a reportagem de capa literalmente é opaca, em sua imagem e especialmente em quesito importância). Pode ser loucura minha, ou uma comparação esdrúxula, mas não me parece coincidência tal notícia de “prostituição legal” em uma cidade onde a cafetina Andréia Schwartz BRASILEIRA, testemunha contra o ex-governador Eliot Spitzer. Não digo que seja aceitável tal reportagem, mas que a imagem vendida e noticiários que ocorreram, levam a tal idealização de “paraíso sexual”, onde o fretamento de aviões por europeus para suas férias tão merecidas livres de esposa e filhos, são comuns no nordeste brasileiro.
Desculpe professor, sei que a população não está indignada pelo fato do Ronaldo ter contratado 3 prostitutas, e sim pelo fato delas (ou eles) serem travestis. Entretanto, o caso absurdo do austríaco, pela premeditação do crime, e sua duração é que choca, assim como o novo caso de 3 corpos encontrados no freezer de uma casa também na Áustria. Seu ponto é como os 2 casos foram tratados, e sou completamente contra a prostituição, mas sem dúvidas isso não ocorre somente aqui, ande nas ruas de Amsterdam, que é as mais conhecidas as 21:00 mulheres são vendidas em vitrines, ou no Japão, e também na Bélgica, mulheres que são na sua maioria marroquinas, turcas, ou do leste europeu. Aquilo me parece a comercialização e ponto turístico, e também são países de 1º mundo, isso não é desculpa, masss....
Gostei do seu blog, tentarei visitar com mais freqüência.
Até Luciana Mayumi.

Anônimo disse...

nada como a ironia colocada de forma inteligente!
saudades das suas aulas.....