23 de abril de 2009

ESTUDO APONTA A DIMINUIÇÃO DA QUANTIDADE DE ÁGUA NOS PRINCIPAIS RIOS DO MUNDO, INCLUSIVE NO RIO SÃO FRANCISCO.

De acordo com notícia da BBC Brasil, divulgada no Portal UOL, uma pesquisa feita por cientistas norte-americanos aponta que alguns dos principais rios do mundo têm diminuído de vazão ao longo da última metade do século XX.
O estudo será publicado no próximo dia 15 de maio no Journal of Climate, da Sociedade Meteorológica Americana, e foi feito por pesquisadores do National Center for Atmospheric Research (NCAR), que fica no Estado americano do Colorado.
Os cientistas analisaram dados coletados entre os anos de 1948 e 2004, nos 925 maiores rios do planeta, e concluíram que vários rios de algumas das regiões mais populosas estão perdendo água.
De um modo geral, o estudo aponta que alguns dos rios mais importantes do planeta e que abastecem áreas populosas estão perdendo água. Um terço dos 925 rios pesquisados apresentaram mudanças significativas nos fluxos de água no período, sendo que aqueles que perderam vazão ultrapassam os que ganharam em uma proporção de 2,5 para 1.
Entre os rios que apresentaram declínios na vazão estão alguns que servem a grandes populações, como o Amarelo, na China, o Niger, na África, e o Colorado, nos Estados Unidos.
Em contraste, os pesquisadores constataram um aumento considerável na vazão de rios em áreas pouco habitadas no Oceano Ártico. Entre os que permaneceram estáveis ou que registraram um pequeno aumento no fluxo de água estão o Yang Tsé, na China e Bhrahmaputra, na Índia. Segundo os pesquisadores, muitos fatores podem afetar a vazão desses rios, incluindo barragens e o desvio de água para a irrigação.
Mas, de acordo com os dados da pesquisa, em muitos casos, a redução no fluxo de água pode estar relacionada às mudanças climáticas globais, que alteram os padrões de chuvas e os níveis de evaporação. "A redução na vazão aumenta a pressão sobre as reservas de água doce em grande parte do mundo, especialmente em um momento em que a demanda por água aumenta por causa do crescimento da população. A água doce é um recurso vital, e a tendência de queda é motivo de preocupação", conforme declara Aigo Dai, líder da pesquisa.
Segundo a pesquisa, entre os principais rios que correm em território brasileiro, o São Francisco foi a que apresentou o maior declínio no fluxo de águas durante o período pesquisado.
O fluxo de água na bacia do rio São Francisco, que nasce em Minas Gerais e deságua no nordeste do Brasil, caiu 35% no último meio século.
Neste mesmo período, o fluxo de águas na bacia do Amazonas caiu 3,1%, enquanto as bacias de outros rios brasileiros apresentaram uma elevação na vazão.O fluxo de águas no rio Paraná (que termina na Argentina), por exemplo, apresentou um aumento de 60% no período pesquisado, enquanto a bacia do Tocantins registrou um acréscimo de 1,2% em sua vazão.
Entre 1948 e 2004, a região da bacia do rio São Francisco apresentou uma leve queda nos níveis de precipitações e um grande aumento de temperatura.Estes dois fatores contribuíram para o grande declínio do escoamento do rio.
Em relação a estas informações e aos dados, preciosos, da pesquisa noticiada, sobretudo em relação ao nosso Velho Chico, cabem ainda mais dois comentários. Já há pelo menos duas décadas que os estudiosos e pesquisadores do mundo inteiro vêm alertando as populações do planeta em relação aos perigos dos efeitos das mudanças globais e do padrão insustentável da vida da sociedade industrial desenvolvida, sobretudo em relação ao seu impacto sobre as reservas de água doce do planeta. Ou seja, a pesquisa que será publicada em maio deixa, mais uma vez, sem argumento aqueles que se voltavam contra nós no passado e nos chamavam de fantasiosos, alarmistas, ecochatos ou, como já dito inclusive pelo nosso presidente da República, que viam e veêm o movimento ambientalista como um entrave ao desenvolvimento econômico do país.
Não se trata mais de lutar para que não se mate a última ararinha-azul (muito embora isto também seja importante), mas de se questionar o modelo de produção e de consumo que permeia toda a sociedade mundial, sobretudo a dos países desenvolvidos. E parece que a maioria da spessoas não vê, ou não consegue ver, os sinais óbvios da saturação e da obsolescência da mentalidade humana reinante.
Além disso, e agora especificamente em relação ao Velho Chico, é exatamente esta estúpida mentalidade "desenvolvimento a qualquer preço" que impôs, a ferro e fogo e ao arrepio da Constituição Federal e da legislação ambiental, a transposição do rio São Francisco. A um rio que, agora comprovadamente, nos últimos 50 anos perdeu 35% de suas águas, se infligea retirada de mais água, para atender aos interesses urbanos e industriais de duas capitais nordestinas.
Lamentavelmente, quando saírem estudos, no futuro, demonstrando o impacto negativo da retirada de água do São Francisco pela transposição, o empobrecimento ambiental provoicado pela diminuição de água da bacia hidrográfica do Rio São Francisco e do êxodo populacional gerado por estas questões ambientais, as pessoas responsáveis já estarão longe, esquecidas na memória curtíssima do imaginário populista nacional.

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