25 de outubro de 2010

A CENSURA AVANÇA, EM PASSOS LENTOS E SILENCIOSOS, MAS FIRMES E DECIDIDOS.

Matéria publicada no jornal Folha de São Paulo de hoje e divulgada no portal de notícias UOL, aponta que mais três estados brasileiros, a exemplo do estado do Ceará, planejam estabelecer conselhos de comunicação com o objetivo de monitorar a mídia. Como diz a jornalista Elvira Lobato, na Folha, "a criação dos conselhos foi recomendação da Conferência Nacional de Comunicação, realizada no ano passado, por convocação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Ceará foi o primeiro a tomar a iniciativa. Na terça-feira, a Assembleia Legislativa do Estado aprovou a criação de um conselho, vinculado à Casa Civil, com a função de 'orientar', 'fiscalizar', 'monitorar' e 'produzir relatórios' sobre a atividade dos meios de comunicação, em suas diversas modalidades. O governo de Alagoas estuda transformar um conselho consultivo - existente desde 2001 e pouco operante- em deliberativo, com poder de decisão semelhante ao aprovado pelo Ceará".
Impressionante!!! Num país de pouquíssima  maturidade e consciência de direitos civis e liberdades públicas - quase nenhuma, na verdade, em função do pouco tempo de prática democrática real ante a esmagadora maioria de vida histórica ditatorial e excludente -, onde o conservadorismo e as tendências autocráticas sempre arranjam pretstos para soltar seus rosnados e mostrar sua sobrevida, falar-se em "orientação", "fiscalização" e "monitoramento" da mídia é, no mínimo, uma piada de péssimo gosto para se maquiar a censura. Ainda mais quando esta iniciativa aflora de modo concreto em estados e regiões onde o controle oligárquico e anti-democrático dos veículos de mídia são notórios (não que em outras regiões mais "abastadas" e "desenvolvidas" do país isto não ocorra...) e onde a exploração da miséria, do analfabetismos e das mazelas sociais são também tão marcantes.
O que mais preocupa é que os que defendem este tipo de idéia, travestidos em roupas de "defensores da sociedade" ou "paladinos dos bons costumes", repetem estratégias já conhecidas de passado não muito remoto ou resolvido.
Stalin, Hitler, Bush, Getúlio, Lacerda, os militares da ditadura, todos, a seu tempo e com seus messiânicos motivos pessoais, propuseram ou efetivaram medidas de controle da mídia e da liberdade de expressão, como que a dizer: "essa democracia já foi longe demais!". E não há diferença: censura é censura em qualquer lugar Ela implica em violação da liberdade pública de expressão, independentemente do eufemismo ou da pintura que se lhe dê.
A oligarquia nacional, o coronelato tradicional e o novo, fantasiado das mais coloridas vestes democráticas (mas, com cceroulas ditatoriais e oligárquicas por debaixo), que tanto criticam regimes ditatoriais notórios (como Cuba, Irã ou Coréia do Norte) e que tanta piada fazem em relação a eles, age de modo idêntico, ao propor e efetivar medidas e organismos de controle da liberdade de expressão.
É preciso lembrar que os principais golpes à cidadania, aos direitos civis e que instauraram os piores regimes sociais da História, não foram erigidos da noite para o dia, ao som de alguns tiros de canhão. Mas, lentamente, passo a passo, como uma aranha a tecer lentamente sua armadilha mortal. Basta que se tenha em mente a construção gradativa, e normativa, do estado nazista (aliás, é assutadoramente curiosa a analogia entre o controle de mídia e de censura na Alemanha nazista e o culto iconoclástico à figura de Hitler e dos valores pregados por ele pela juventude nazista).
Enquanto a sociedade é polarizada por assuntos de despiste ("será que o Tiririca sabe ou não assinar o nome?", "Com quem a atriz tal dormiu ontem?", "A Dilma vai ou não roubar um banco?") as liberdades públicas, a cidadania, vão sendo erodidas, implodidas, limitadas, extintas, passo a passo, violação a violação, capitão Nascimento a capitão Nascimento, exclusão a exclusão. Já não nos incomodamos ou reagimos mais a váriaos absurdos, já não nos sensibilizamos mais com os que são diferentes de nós, pois nos contentamos em pensar que, como não somos iguais aos que estão na mira da chibata, estamos a salvo, pois pertencemos ao grupo dos "iguais". Triste ilusão.
E assim, vamos nos transformando em uma sociedade de desparecidos de nós mesmos, de diferenças a serem eliminadas...

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